sábado, 26 de fevereiro de 2011

Desabafos

Hoje acordei disposta a escrever e desabafar. Sem querer, comecei a escrever no meu orkut e as palavras foram saindo; como algo que estava preso na minha gargante e foi desafogando.
Nos últimos dias, certas coisas aconteceram em relação a familiares e amigos, e eu me senti muito magoada por ver que certas pessoas não botam a menor fé em mim, muito pelo contrário, só sabem criticar e debochar. Mesmo sabendo que essas pessoas não acrescentarão nada de bom, sinto que o mínimo é termos apoio (ou reconhecimento) da nossa família e amigos.
Não sei se o problema é meu jeito, por sempre me tacharem como "doidinha" ou algo do tipo... Ou mesmo a minha idade. Acontece que não sou mais criança ou adolescente, sei das minhas obrigações e mesmo que ainda continue com meu jeito despojado de ver a vida, faço questão que me respeitem como Mãe/Mulher.
Já cheguei ao cúmulo de ter que ouvir que não poderia palpitar sobre amamentação pois eu só tive um filho! Ahhh, faça-me o favor! Só pode falar sobre um assunto quem têm anos de vivência na prática? Se fosse assim, não existira obstetra homem, ou pediatra sem filhos; quem dirá consultoras em amamentação que não sejam mães.

Então seguem meus desabafos:

O primeiro foi em relação ao Sling,
"Dedico este álbum (que criei no orkut) às pessoas que vêem o Sling com um olhar preconceituso! É que eu cansei de piadinhas, dizendo que se eu colocar ele num saco plástico dá no mesmo, que isso é coisa de índio (e não deixa de ser), que eu machuco meu filho, que ele vai ter problemas nas pernas, que ele vive preso, que isso é modinha, que eu não entendo nadaa de carregadores de bebês, que blá blá blá...
Pra mim bom é estar em contato com meu filho, é fazer ele adormecer no meu embalo e ouvindo as batidas do meu coração. É mostrar a ele que ele pode confiar na mamãe, e ser seguro por ter a minha presença. Sling pra mim é carinho, é conforto, é afeto!
Ou será que o legal é carrinho de bebê?? Em que ele fica lá, sozinho,distante da mãe, sem calor humano, sem abraço constante, olhando o mundo de um ângulo tão estranho.

Precisava desabafar mesmo! Pq as pessoas têm que entender que se eu defendo algo, no mínimo eu estudo, pesquiso, debato, vivencio, vejo opiniões de profissionais e faço questão de que me respeitem, sem piadas ou etc."

E um bem global,
"Cansada de ser menosprezada e satirizada pelas coisas que defendo e faço questão de levar adiante! E daí que eu só tenho um filho? E daí que eu tenho só 24 anos? E daí que eu não tenho faculdade de medicina? Esses sós não minimizam meus estudos, pesquisas, trabalhos e vivências. Defender o trabalho de Doula, o Parto Natural, a Amamentação, o Sling, a Não introdução de sólidos antes dos 6 meses, o Não uso de bicos, a Alimentação saudável das crianças, o Não bater em crianças, a Cama compartilhada etc... é algo muito sério para mim!! É algo que faço com amor, carinho e dedicação. Saber que fiz a diferença na vida de muitas mães/bebês tem sido extremamente gratificante pra mim. Por isso eu peço, por favor, não riam do meu trabalho de formiguinha. Sei que um dia ou outro, todos terão consciente plena de muitos desses assuntos."

E assim eu encerro, contando com aqueles que amo e esperando não me decepcionar novamente tão cedo. (O que acho bem improvável, rss)







sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

1ª Roda de Gestantes "Do Ventre à Luz"

 
Já está confirmado o nosso primeiro encontro!

Nos reuniremos no Parque da Juventude, próximo ao Metrô Carandiru, dia 26/02 das 09:00 às 11:00. A roda será realizada no gramado, tragam cangas ou toalhas para sentarem-se. Crianças são muito bem vindas, não esqueçam de protege-las do Sol! Comes e bebes para o café da manhã serão providenciados por nós.

O tema será "Parto nas Casas de Parto" e teremos depoimentos de mulheres que pariram nas casas de parto de São Paulo.

Não precisa fazer inscrição e, caso esteja chovendo no dia, iremos para algum lugar coberto dentro do parque. A participação é gratuita.

Outros assuntos relacionados ao parto natural e a maternidade em geral poderão ser discutidos durante a roda, estaremos à disposição para tirarmos todas as dúvidas das gestantes, mamães e casais grávidos presentes!

Essa roda inaugural dará incio a um trabalho que está sendo planejado com muito amor visando ajudar as mulheres a exercerem a maternagem de forma plena e consciente .

Por favor, nos ajudem a divulgar a iniciativa para as gestantes da zona norte de São Paulo, de Guarulhos ou de qualquer outro lugar que dê fácil acesso ao Parque da Juventude.

Esse projeto está sendo realizado em parceria com as doulas e amigas queridas Pris Rezende e Julia Lins.
 
Todas as informações sobre as Rodas estarão disponibilizadas aqui: www.doventrealuz.blogspot.com.


quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

A angústia da separação ou crise dos oito meses



Estamos passando há aproximadamente 1 mês por esta crise! Tem que ter muita paciência mesmo, porque toda essa ansiedade é causadora de diversos outros problemas, como: não querer comer, não querer dormir, etc. Geralmente atribuem tudo isso aos pobres dentes, e esquecem de dizer que é algo muito mais complexo. O remédio pra isso é muito colo, carinho e atenção. E logo logo o tempo resolve, levando embora esta que é apenas uma das diversas fases.

Quando o bebê chega aos oito meses de idade, começa a operar a angústia da separação que, geralmente, continua a se manifestar de uma forma ou outra até os cinco anos. Em breve o bebê começa a sentir pânico quando não vê sua mãe. É preciso levar a sério a intensidade dos seus sentimentos. A mãe é o seu mundo, é tudo para o bebê, representa sua segurança.

Um pouco de compreensão

O bebê não está “chatinho” nem “grudento”. O sistema de angústia da separação, localizado no cérebro inferior está geneticamente programado para ser hipersensível. Nos primeiros estágios da evolução era muito perigoso que o bebê estivesse longe da sua mãe e, se não chorasse para alertar seus pais do seu paradeiro, não conseguiria sobreviver. O desenvolvimento dos lóbulos frontais inibe naturalmente esse sistema e, como adultos, aprendemos a controlá-lo com distrações cognitivas.

Se você não está, como ele sabe que você não foi embora para sempre?

Você não pode explicar que vai voltar logo, porque os centros verbais do seu cérebro ainda não funcionam. Quando ele aprender a engatinhar, deixe-o segui-la por todas as partes. Sim, até ao banheiro.
Livrar-se dele ou deixá-lo no cercadinho não só é muito cruel, também pode produzir efeitos adversos permanentes. Ele pode sentir pânico, o que significa um aumento importante e perigoso das substâncias estressantes no seu cérebro. 
Isso pode resultar em uma hipersensibilização do seu sistema de medo, o que lhe afetará na sua vida adulta, causando fobias, obsessões ou comportamentos de isolamento temeroso. Pouco a pouco, ele vai sentir-se mais seguro da sua presença na casa, principalmente quando começar a falar.
 
A separação aflige as crianças tanto quanto a dor física

Quando o bebê sofre pela ausência dos seus pais, no seu cérebro ativam-se as mesmas zonas que quando sofre uma dor física. Ou seja, a linguagem da perda é idêntica à linguagem da dor. Não tem sentido aliviar as dores físicas, como um corte no joelho e não consolar as dores emocionais, como a angústia da separação. Mas, tristemente, é isso o que fazem muitos pais. Não conseguem aceitar que a dor emocional de seu filho é tão real como a física. Essa é uma verdade neurobiológica que todos deveríamos respeitar.

Às vezes, impulsionamos nossos filhos a serem independentes antes do tempo

Nossas decisões como pais podem empurrar nossos filhos a uma separação prematura. Um exemplo seria enviá-los a um internato pequenos demais. As crianças de oito anos ainda podem ser hipersensíveis à angústia da separação e ter muita dificuldade em passar longos períodos de tempo longe dos seus pais. Sua dor emocional deve ser levada a sério. O Sistema GABA do cérebro é sensível âs mais sensíveis mudanças do seu entorno, como a separação de seus pais. Estudos relacionam a separação a pouca idade com alterações desse sistema anti-ansiedade.

As separações de curto prazo são prejudiciais

Alguns estudos detectaram alterações a longo prazo do eixo HPA do cérebro infantil devido a separações curtas, quando a criança fica aos cuidados de uma pessoa desconhecida. Esse sistema de resposta ao estresse é fundamental para nossa capacidade de enfrentar bem o estresse na vida adulta. É muito vulnerável aos efeitos adversos do estresse prematuro. Os estudos com mamíferos superiores revelam que os bebês separados de suas mães deixam de chorar para entrar num estado depressivo.  

Param de brincar com os amigos e ignoram os objetos do quarto. À hora de dormir há mais choro e agitação. Se a separação continuava, o estado de auto-absorção do filho se agravava e lhe conduzia à letargia e a uma depressão mais profunda.
Pesquisas realizadas nos anos setenta demonstraram que alguns bebês cuidados por pessoas desconhecidas durante vários dias entravam em um estado de luto sofriam de um trauma que continuava a afligir-lhes anos depois. Os bebês estudados estavam sob os cuidados de adultos bem intencionados ou em creches residenciais durante alguns dias. Seus pais iam visitá-los, mas basicamente, estavam em mãos de adultos que eles não conheciam.
Um menino que se viu separado de sua mãe durante onze dias deixou de comer, chorava sem parar e se jogava ao chão desesperado. Passados seis anos, ele ainda estava ressentido com sua mãe. Os pesquisadores observaram a inúmeras crianças que haviam sido separadas de seus pais durante vários dias e se encontravam em estado de ansiedade permanente. Muitos passavam horas imóveis, olhando a porta pela qual havia saído sua mãe. Aquele estudo, em grande parte gravado em filme, mudou no mundo inteiro a atitude em relação às crianças que visitam suas mães no hospital.

Mas, não é bom o estresse?

Algumas pessoas justificam sua decisão de deixar o bebê desconsolado como uma forma de “inoculação de estresse”. O que significa apresentar ao bebê situações moderadamente estressantes para que aprenda a lidar com a tensão. Aqueles que afirmam que os bebês que choram por um prolongado período de tempo só sofre um estresse moderado estão enganando a si mesmos.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

O pai na hora do parto


A união e a ação conjunta do pai e da mãe devem começar desde a notícia sobre a gravidez. É necessário que os pais participem e acompanhem todo o crescimento da criança, contribuindo para a sua educação e desenvolvimento. Em hipótese alguma o papel da mãe deve se sobressair ao do pai.
É fácil notar que na atualidade, a função do pai tem sofrido grandes mudanças. Antigamente, era comum que a maioria das tarefas direcionadas a criação dos filhos estivesse encarregada pela mãe. O papel do pai era quase que secundário. O papai de hoje é muito mais participativo; e entende que a sua função de pai deve ser exercida constantemente. A conclusão é que todas as mudanças ocorridas ao longo do tempo com relação a postura do pai, fizeram com que ele tivesse acesso a sala do parto.
Quando o assunto é a hora do parto, a presença do pai torna-se ainda mais importante, já que é capaz de transmitir segurança, proteção e tranqüilidade a mulher. Além disso, a presença do papai garante a si próprio um sentimento de satisfação e integração na hora do nascimento da criança.
O papai que decide estar presente na hora do parto acredita e compreende que a sua participação é fundamental e que assim como a mãe, ele também tem suas obrigações. A presença do pai na hora do parto conclui um período de ajuda mútua - que fora a gravidez e inicia uma nova fase, a do crescimento e desenvolvimento do bebê.
Na hora do parto, o papai deve estar ao lado da mãe, mantendo um contato visual constante, auxiliando-a a respirar e a fazer força quando necessário. Palavras de apoio e encorajamento também serão bem vindas neste momento.
Mas vale lembrar que a presença do pai na hora do parto só deve ocorrer após uma decisão refletida e discutida pelo casal, para que a presença do pai não se torne uma ação forçada, confusa ou mesmo desconfortável.

Muitas novidades!

O Maternar está de endereço novo. Agora aqui no Blogspot tudo fica mais fácil e prático, mas também a mudança aconteceu por um motivo bem legal.
Eu e mais outras duas doulas da Zona Norte, a Priscilla e a Júlia, juntamos nossa vontade de compartilhar experiências de parto e maternidade com gestantes, pais e mães aqui da região e criamos a "Do ventre à luz". Uma roda de gestantes que acontecerá todo mês.
É um projeto que está saindo do papel e torcemos muito para que logo logo nossos encontros aconteçam!
Estou sem me dedicar às postagens há quase 2 meses. E de lá pra cá coisas novas aconteceram com meu Rafael: agora ele já come sólidos (mas ainda prefere o peito) e tem 4 dentinhos. Em relação ao sono, as brigas ainda continuam frequentes, mas eu já digeri que isso é algo da personalidade dele, não tem como mudar!
2011 começou com tudo, e espero ter sempre muitas coisas boas para dividir com vocês.

Pra quem quiser saber mais sobre a roda de gestantes: http://doventrealuz.blogspot.com/

;)

sábado, 23 de outubro de 2010

O efeito vulcão

Pular soneca produz birra?

Bebê que pula soneca fica chato, irritadiço e extremamente cansado. Aqui em casa, como eu já disse, a briga com o sono é chatíssima e cansativa para ambos lados. Rafael não pode jamais pular uma soneca, que dá-lhe luta com o sono. Acho muito importante relatar que esse papo de: "deixar acordado de dia pra dormir melhor à noite", definitivamente, não dá certo! Bebês (e crianças) precisam sim de sonecas para não "passarem do ponto".

Por que pular uma soneca resulta em birra e extrema irritação?
A partir do momento a criança acorda pela manhã ela já começa a consumir os benefícios da noite de sono passada. Ela acorda totalmente restaurada, cheio de energia, mas conforme as horas passam, pouco a pouco, os benefícios do sono da noite passada são esgotados, e um impulso para voltar a dormir começa a existir.

Quando pegamos a criança nesse estágio e colocamos para dormir a soneca, fortalecemos os benefícios relacionados ao seu reservatório de sono, permitindo que ela ‘recomece’ após cada período de sono.

Como mostrado nos números abaixo, conforme a maturidade da criança a quantidade de tempo que consegue ficar ‘acordada e feliz’ aumenta.

Um bebê recém nascido só consegue ficar acordado de 1 a 2 horas antes que o cansaço se instale, enquanto que uma criança de 2 anos consegue durar até 7 horas acordada antes de precisar de uma soneca.

Quando crianças são ‘forçadas’ a ficarem acordadas além de suas necessidades biológicas sem uma soneca, elas ficam com fatigua, chorosas e infelizes.

Idade e tempo que aguentam acordados e felizes entre sonecas:

Recém nascido- 1 - 2 horas
6 meses- 2 - 3 horas
12 meses - 3 - 4 horas
18 meses- 4 - 6 horas
2 anos - 5 - 7 horas
3 anos- 6 - 8 horas
4 anos- 6 - 12 horas



Bebês aguentam um breve espaço de tempo acordados e a pressão do sono já chega. Rapidamente alcançam o pico do vulcão, entre 1-3 horas. Por isso é que recém nascidos dormem várias sonecas ao dia e bebês novos requerem 2-4 sonecas diárias.

Confome o tempo os ciclos de sono do bebê ganham uma maturidade e eles são capazes de ficarem acordados mais tempo entre sonecas. Mas não é até 4 ou 5 anos de idade (as vezes mais) que a criança consegue passar o dia todo sem sonecas e feliz.


Pesquisas de sono sugerem que até adultos se beneficiariam de uma soneca no meio do dia ou pelo menos uma pausa para descansar seria extremamente benéfica para reduzir a pressão em todos seres humanos.


O efeito vulcânico

Conforme o dia passa e a pressão do sono se instala, a criança fica mais irritada, chorosa e menos flexível, chora com mais frequência, faz birra, tem menos paciência. Ela perde a concentração e habilidade de aprender e absorver novas informações.

O termo científico para esse processo é "pressão de sono homeostática " ou "tração do sono homeostática" . . . Eu chamo isso de ’O efeito vulcânico’ .

Todas nós já vimos esses efeitos no bebê ou na criança, é tão claro como assistir um vulcão entrar em erupção. Quase todo mundo já observou uma criança chorosa e irritada e pensamos ou falamos: "É sono, precisa de uma soneca!"

Conforme o dia passa, suas necessidades biológicas exigem uma pausa na forma de soneca para reparar, refrescar e se ‘reagrupar’. Se o bebê não tira essa soneca o problema se intensifica: os estrondos e tremores se tornam uma explosão mesmo!
Sem o descanso da soneca a pressão homeostática continua se acumulando até o final do dia, crescendo e se intensificando- como um vulcão- até que a criança estará completamente exausta, elétrica e incapaz de parar a explosão.

O resultado é uma batalha intensa na hora de dormir com uma criança exausta, ranzinza, ou um bebê que não consegue adormecer- não importando o quão cansado esteja.
Pior ainda, uma criança que perde sonecas dia após dia acumula deprivação de sono que a põe no estágio do vulcão em erupção mais e mais rapidamente e facilmente.

E se ela está perdendo sonecas E também não tem uma boa qualidade ou quantidade de sono noturno.... cuidado!


O Efeito Vulcânico não é algo que só acontece em crianças não! Esse processo biológico afeta adultos também. Entender isso pode ajudar a interpretar o que realmente está acontecendo em sua casa e no final de um longo dia, quando as crianças estão irritadas e fazendo birras e os pais estão ranzinzas e irritados também- o resultado é uma fileira inteira de vulcões explodindo!!

A pressão de sono pode ser intensificada por problemas do ambiente como: noite de sono passada ruim, déficit de sono prévio e estresses diários. Mais ainda, o estado de espírito de cada pessoa afeta os outros, causando um mal humor contagioso! Então você se verá com pouca paciência com seu filho e lhe dirá "Desculpe meu amor, mamãe está cansada agora." (Essa é uma explicação frequente que nós geralmente não paramos para analisar!)


O conceito do vulcão ainda traz outra observação importante: Sonecas de qualidade podem compensar por sono noturno perdido- mas tempo extra de sono noturno NÃO compensa sonecas perdidas (devido ao conceito de pressão de sono homeostático). Portanto, não importa se a criança dormiu bem a noite ou não – suas sonecas diárias são importantíssimas para liberar a pressão de sono em ascensão.

Trecho do livro The No-Cry Nap Solution: Guaranteed Gentle Ways to Solve All Your Naptime Problems por Elizabeth Pantley (McGraw-Hill, January 2009).

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

O que é Livre Demanda?

Provavelmente, você já escutou que o peito se dá a demanda. Mas é fácil que lhe tenham explicado mal. Muitas vezes a mulherada acha que está amamentando a livre demanda, mas não está. Aqui em casa é peito toda hora, sem esperar chorar, porque isso seria sinal de que o Rafael já está esfomeado. Ele mama mais ou menos de duas em duas horas, mas como eu nunca olho relógio, não me ligo nisso. Ele mama quando quiser e pelo tempo que estiver com vontade (muitooo, rs). Estamos amamentando exclusivo e em LD há 5 meses e 20 dias e quase chegamos em 9kg. Peito e relógio, definitivamente, não combinam!

É muito difícil erradicar da nossa cultura essa obsessão coletiva com os horários das mamadas. Parece que sempre foi assim. Alguns, ao ouvir falar da livre demanda, acham que é um invento dos hippies e com semelhante despropósito vamos criar uma geração de selvagens indisciplinados. Mas é justo o contrário, dar o peito à demanda é que sempre foi assim e os horários são uma invenção moderna. É verdade que algum médico romano já havia falado de horários, mas foi um caso isolado e naquele tempo as mães não perguntavam aos médicos como tinham que dar o peito. Praticamente todos os médicos do séc.XVIII recomendavam a amamentação a demanda (ou não recomendavam nada, porque, como a amamentação não é uma doença, os médicos não se ocupavam muito desse tema). Só a princípios do séc.XX começaram quase todos os médicos a recomendar um horário e mesmo assim poucas mães o seguiam, porque não havia saúde pública e os pobres não iam ao médico se não estivessem muito doentes. Só quando as visitas ao pediatras começaram a converter-se numa cerimônia regular, em meados do século passado, começaram as mães a tentar seguir um horário, com péssimos resultados.

Muita gente(mães, familiares, médicos ou enfermeiras) lê ou ouve isso de livre demanda e pensa: “Sim, claro, não é necessário ser rígidos com as três horas. Se chora 15 min. antes, pode-se dar o peito e também não é necessário acordá-lo se está dormindo”. Ou então: “Sim, claro, a demanda, como sempre disse, nunca antes de duas horas e meia nem mais tarde que quatro”. Tudo isso não é a demanda; são só horários flexíveis, que claro que não são tão ruins como os horários rígidos, mas continuam causando problemas. Livre demanda significa em qualquer momento, sem olhar o relógio, sem pensar no tempo, tanto se o bebê mamou faz 5 horas quanto se mamou faz 5 minutos.

Mas, como pode ter fome aos cinco minutos? Imagine que está criando o seu filho com mamadeira. Ele costuma tomar 150ml e, de repente, um dia, o bebê só toma 70 ml. Se aos cinco minutos, parece que tem fome, você dá os 80 ml ou pensa: “Como pode ter fome se faz só cinco minutos que tomou a mamadeira?”. Tenho certeza que todas as mães dariam a mamadeira sem duvidar um único minuto, de fato, muitas passariam mais de uma hora tentando meter a mamadeira na boca do bebê a cada cinco minutos. Pois bem, se um bebê solta o peito e ao cabo de cinco minutos parece ter fome, pode ser que só tenha mamado a metade. Talvez tenha engolido ar e se sentia incômodo e agora que arrotou já pode continuar mamando. Talvez tenha se distraído ao ver uma mosca e agora a mosca já se foi e ele percebeu que ainda tem fome. Talvez tanha se enganado, achou que estava satisfeito e agora mudou de opinião. Em todo caso, só esse bebê, nesse momento, pode decidir se precisa mamar ou não. Um especialista que escreveu um livro na sua casa no ano passado ou faz um século, ou a pediatra que viu o bebê na quinta passada e lhe recomendou um horário não podem saber que seu filho hoje, às 14:45 da tarde ia ter fome. Isso seria atribuir-lhes poderes sobrenaturais.

E qual o tempo máximo? É preciso acordá-los? Quantas horas podem estar sem mamar? Em princípio, as horas que queira. Um bebê saudável, que engorda normalmente, não precisa ser acordado. É distinto o caso de um bebê que está doente ou não aumenta normalmente de peso. Um bebê pode estar tão fraco que não tem força para pedir o peito. Nesses casos, é preciso oferecer o peito com mais frequência. Isso também pode aplicar-se aos recém-nascidos.

Quando o bebê dorme muito, muitas vezes não é preciso acordá-lo, mas sim estar atento aos seus sinais de fome. À demanda não significa dar o peito cada vez que chore. O choro é um sinal tardio de fome. Do momento que uma criança maior tenha fome até que chore podem passar várias horas. Do momento que um bebè tem fome até que chore podem passar alguns minutos, ou até mais, dependendo da personalidade do bebê. Mas é raro, que nada mais ter fome, comece a chorar. Antes disso terá mostrado sinais precoces de fome: uma mudança no nível de atividade (acordar, mexer-se), movimentos com a boca, movimentos de procura com a cabeça, barulhinhos, por as mãozinhas na boca...então, é quando se deve pô-lo no peito, não esperar que chorem. Se um bebê que está fraco porque perdeu peso está sozinho no seu quarto, fora da vista dos seus pais, é provável que dê estes sinais e ninguém perceba e ele volte a dormir por cansaço.

Dar o peito à demanda não significa que mame o que mame o bebê, sempre seja normal. Pois bem, também existem valores normais para a frequência e a duração das mamadas. O problema é que não sabemos quais os valores normais para o ser humanos. Porque o ser humano vive em sociedades, em civilizações, com nossas crenças e normas. As espanholas, há trinta anos, davam o peito dez minutos cada quatro horas. Não faziam o que queriam, o normal, mas sim o que havia indicado o médico ou o livro. Se no Alto Orinoco existe uma tribo que dá o peito cinco minutos a cada hora e meia, isso é o natural ou é o que recomenda o xamã da tribo?

Inclusive dentro da Europa há diferenças. Num estudo multinacional sobre crescimento dos bebês, observaram com surpresa que o número médio de mamadas ao dia aos dois meses de idade ia desde 5,7 em Rostock (Alemanha) até 8,5 no Porto, passando por 6,5 em Madrid ou 7,2 em Barcelona. Mulheres de cultura muito similar, que supostamente estão dando o peito à demanda. Como é possível que os bebês demandem mais peito num país que no outro?

A resposta é simples, mas inquietante. Acontece que a amamentação a demanda, o conceito em torno do qual gira esse livro não existe. Não existe porque os bebês não sabem falar. Se um bebê falasse, um observador imparcial poderia certificar: “Efetivamente, essa mãe está dando o peito à demanda”, porque às 11:23 a menina disse: “Mamãe, peito” e às 11:41 voltou a pedir, mas não lhe deu o peito até que pediu por terceira vez, às 11:57. Como os bebês não falam, fica a critério da mãe decidir quando está demandando ou não. Dois bebês choram, uma mãe lhe dá o peito no mesmo instante e a outra olha o relógio e diz: “Fome não é, porque não faz nem uma hora e meia que mamou, devem ser os dentes” e lhe dá um mordedor. Dois bebês mexem a cabecinha e a boca procurando peito. Uma mãe dá o peito, a outra nem percebe porque o bebê estava no berço e a mãe não o via. Dois bebês dizem: “angu”. Uma mãe pensa: “Ui, já acordou” e o põe no peito e a outra o olha embevecida e diz: “que lindo, já diz angu!”.

Por último, recordar que à demanda não só significa quando o bebê quer, mas também quando a mãe quer. É claro que as necessidades de um recém-nascido são totalmente prioritárias. Mas, à medida que o bebê cresce, cada vez sua mãe tem mais possibilidades de decidir quando dá o peito ou não. Vale ressaltar que um horário rígido é inadequado em qualquer idade e sempre convém que o bebê decida a maioria das mamadas. Mas não há problemas em adiantar ou atrasar um pouco alguma das mamadas.

Assim que, ao contrário do que muita gente pensa, a livre demanda não é uma escravidão, mas sim uma liberação para a mãe. A maioria das vezes pode fazer o que quer o seu filho, de modo que o bebê está feliz e não chora e portanto, a mãe também está feliz e não chora. E de vez em quando pode fazer o que ela quer. A escravidão é o relógio.

Como vc amamenta?

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